quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

O lenhador

O lenhador
Um misero lenhador,
Que oitenta invernos contava,
Com um feixe de lenha às costas
A passos lentos andava.
Pela idade enfraquecido,
Além do sustento escasso,
Tropeçou, caiu-lhe o feixe,
Fazendo um golpe num braço.

Depois com pranto nos olhos
Alguns alentos cobrou,
E refletindo em seus males,
Sentado, assim declamou:


                   

O lenhador


















" Mais do que eu sou, infeliz,
" Não há no globo um vivente,
" Trabalho mais do que posso,
" E vivo assaz indigente.

"  Pouco pão, nenhum descanso,
" Uma existência oprimida,
" Ah! que não vejo quem tenha
" Tão dura e penosa vida !


" Filhos maus, mulher teimosa,
" Más pagas, duro credor,
" Rendas de casas, impostos,
" Não há desgraça maior !

" Vem, ó morte, ó morte amável !
" Socorre a quem te apetece !
Eis o esqueleto da morte
De repente lhe aparece;
                                                                                 
A Morte
    


















*


E diz: " Mortal, que me queres ? "
Torna-lhe ele de mãos postas:
" Quero, amiga, que me ajudes
" A pôr este feixe, ás costas. "


Na dor deseja-se a morte;
Mas quando vem faz tremer;
Que é dos viventes o instinto
Antes penar que morrer.

Semmedo
Lisboa,Fevereiro de 1881. 

Fonte: http://pintorlopes.blogspot.com/2011/05/o-lenhador.html inclusive o quadro é do autor do blog. Parabéns...

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