Um misero lenhador,
Que oitenta invernos contava,
Com um feixe de lenha às costas
A passos lentos andava.
Pela idade enfraquecido,
Além do sustento escasso,
Tropeçou, caiu-lhe o feixe,
Fazendo um golpe num braço.
Depois com pranto nos olhos
Alguns alentos cobrou,
E refletindo em seus males,
Sentado, assim declamou:
O lenhador |
" Mais do que eu sou, infeliz,
" Não há no globo um vivente,
" Trabalho mais do que posso,
" E vivo assaz indigente.
" Uma existência oprimida,
" Ah! que não vejo quem tenha
" Tão dura e penosa vida !
" Filhos maus, mulher teimosa,
" Más pagas, duro credor,
" Rendas de casas, impostos,
" Não há desgraça maior !
" Socorre a quem te apetece !
Eis o esqueleto da morte
De repente lhe aparece;
A Morte |
*
E diz: " Mortal, que me queres ? "
Torna-lhe ele de mãos postas:
" Quero, amiga, que me ajudes
" A pôr este feixe, ás costas. "
Na dor deseja-se a morte;
Mas quando vem faz tremer;
Que é dos viventes o instinto
Antes penar que morrer.*
Semmedo
Lisboa,Fevereiro de 1881.
Fonte: http://pintorlopes.blogspot.com/2011/05/o-lenhador.html inclusive o quadro é do autor do blog. Parabéns...